A LÍNGUA DE BOM DESPACHO - MG
A LÍNGUA DA TABATINGA
A língua do negro da costa
Definitivamente descobri nos últimos anos que a coisa que mais gosto de fazer é pesquisar sobre idiomas na internet, buscar ligações, origens e saber como influencia o conhecimento dos povos. É comum que nossos olhos estejam voltados para outro país, com a ideia básica de que cada país tem sua língua de forma particular.
Nunca havia parado pra pensar que todas as vezes que estou indo pra Bom Despacho, 150Km de Belo Horizonte logo ao lado de minha pequena e agradável cidade o ápice da minha conversa é sempre o mesmo.
![]() |
Matriz Católica em Bom Despacho - MG |
Inicialmente podemos afirmar que esse idioma está em total declínio e que é muito provável sua extinção, caso não seja estudado ou difundido dos falantes para seus descendentes. Proveniente do bairro Ana Rosa (antigo Tabatinga), conta com aproximadamente 20 falantes e é referenciada como a 180ª língua falada no Brasil. A raiz do idioma está contido na resistência dos escravos vindos da África em falar o português, assim poderiam se comunicar sem correr riscos e adversidades. Até recentemente, sua maior falante chamava-se Maria Joaquina da Silva Dona Fiota, ou Fiotinha, tida pela comunidade como a grande representante da língua. Em 2006 foi criada a Associação Quilombola Quilombo dos Carrapatos, que desenvolve atividades para o registro e a preservação desse patrimônio linguístico ameaçado.
Segundo texto de José Ribamar Bessa Freire postado em 2007 Dona Fiota contou, que seu pai era um baiano que vivia andando pelo mundo, no tempo do final da escravidão, que ele passou pelo centro-oeste de Minas Gerais, que foi passando e viu sua mãe no cativeiro trabalhando, fiando fio de algodão, que acenou para ela e perguntou se não arrumava uma ocupação para ele, que acabou conseguindo um serviço na roça de mandioca, que foi ficando e namorando, ficando e namorando, até que os dois se casaram, tiveram filhos, netos, bisnetos.
Os descendentes do andarilho baiano com a ex-escrava se organizaram depois de abolida a escravidão: “Quando rebentou a liberdade, minha mãe saiu lá de Engenho do Ribeiro caçando um lugar. Chegou aqui. Tudo era mato. Na subida, havia um barro branquinho. Ai foi minha mãe que deu o nome de Tabatinga. Toda vida foi Tabatinga. Desde o tempo da escravidão. Só agora é que o nome mudou pra Ana Rosa. Quero tirar esse nome de Ana Rosa”.
Dona Fiota faleceu em 3 de fevereiro de 2012. Seu maior falante atualmente, portanto, é Marquinhos Bacará, cujo pai, o Bacará, participou do livro Pé Preto no Barro Branco, de Sônia Queiroz.
Após uma lei sancionada em 2003 a comunidade conquistou a oportunidade de passar adiante sua cultura e história tornando obrigatório o ensino de História e Culturas afro-brasileiras nas escolas de ensino fundamental e médio decidiu-se então, fortalecer nas salas de aula o mesmo idioma. Duas pesquisadoras – Celeuta Batista Alves e Tânia Maria T. Nakamura – acompanharam a luta pela revitalização da língua, que no passado foi um poderoso instrumento de resistência dos escravos e hoje é uma marca da identidade de seus falantes.
Abaixo fiz uma relação de algumas palavras e seus sinônimos, é muito interessante a influência que existe hoje no nosso cotidiano, na região centro-oeste de Minas Gerais, muitas pessoas usam palavras que são de Tabatinga, mesmo nunca tendo um contato direto com a respectiva língua.
Após uma lei sancionada em 2003 a comunidade conquistou a oportunidade de passar adiante sua cultura e história tornando obrigatório o ensino de História e Culturas afro-brasileiras nas escolas de ensino fundamental e médio decidiu-se então, fortalecer nas salas de aula o mesmo idioma. Duas pesquisadoras – Celeuta Batista Alves e Tânia Maria T. Nakamura – acompanharam a luta pela revitalização da língua, que no passado foi um poderoso instrumento de resistência dos escravos e hoje é uma marca da identidade de seus falantes.
Abaixo fiz uma relação de algumas palavras e seus sinônimos, é muito interessante a influência que existe hoje no nosso cotidiano, na região centro-oeste de Minas Gerais, muitas pessoas usam palavras que são de Tabatinga, mesmo nunca tendo um contato direto com a respectiva língua.
Abife: feio
Acachar: Sinônimo de Cachar
Aiaque, aiato: Queijo
ARONGÓ: cavalo
ARUMUTA: abóbora
Assangue, assango: arroz - Var. de Missango.
Atiapo: pouco.
Isso é ingura que ta meio atiapo. (Isso é dinheiro que tá meio pouco)
Avura: Grande.
Também usado para designar pessoa boa, coisa boa, bonita, ou coisa positiva de
um modo geral (mais correto seria Opepa). Qualquer outra qualidade que indique
beleza. Eu vô caxá matuaba avura. (Eu vou tomar pinga grande). Tinhame da ocaia é
avura. (A perna da mulher é bonita). O aumentativo de avura é “avuraço” e o
diminutivo é “avurinha”.
Babatimão: suã de vaca
Bambi: frio
BANJERÊ/CONJERÊ: comida
Banjerê:
comida (caxá o banjerê = comer)
Bélude: Dia (por oposição a noite, que é Oteque).
Biguibote: macarrão
Cachar o Cureio: Almoçar, jantar, ceiar
Cachar: Pegar, trazer, cair (chuva), dar, entregar, tomar, roubar, beber, comer, etc.
Cafanhaque, cafanhaco, gafanhaque: dente. A ocaia num tem
cafanhaque no buraco do cureio. (a mulher num tem dente na boca), dente, mandíbula, queixada.
Cafuvira: Preto, negro, escuro, crioulo. O oranjê da ocaia é cafuvira. (O cabelo da
mulher é preto)
Cajuvira: café
Camargo: 1 -saco. Pois o teia dentro do Camargo e injirô pó
conjô. (Pôs o tatu dentro do saco e foi pra casa). 2 -Pênis.
Camba: Ônibus.
CAMBAJARA: ônibus
Cambém: vasilha
Camberela: Carne
Cambereluda: carnuda, gorda, boazuda.
Camboia:
locomotiva
Cambuá: Cachorro, cão
Camoná. Sin.
Camoninho ou camonin (mais usado): criança. A ocaia tem um camunin (a mulher tem uma criança)
Camonão: meninão
Camoninho no Jequê. Grávida.
Canambóia.
Sin. Carambóia: Galinha
Canberela, camberelo, timbere, timbereia: carne. O cuete qué
camberela pra curiá. (o rapaz quer carne pra comer)
Candambora. Sin. antigo Carambóia
Candombora, canamboia, condomboia: galinha
Candomborazinha: frango
Cangura do
Sengue. Bicho, animal selvagem
Cangura, canguro: porco. Ela me deu um pedacinho de camberela
do canguro. (Ela me deu um pedaço da carne do porco), leitão, cachaço (masc. ou fem.).
Cassucara: Casamento, matrimônio
Cassucarado: casado.
Cassucarar: Casar-se, contrair matrimônio
Catiolá: roubar
Catita: Pequeno, Por ext.: feio, sem valor, inútil, fraco, etc.
Catitim: pequenininho
Catovelana, cotovelana: faca
Caviconve: pão
Cavingueiro: Fazendeiro
Cavinguerão: grande proprietário
CAVU: terno, paletó, blazer
Caxá os tinhame: abrir as pernas, fazer sexo.
Caxá: fazer, produzir, criar, mandar, jogar, tirar, receber,
ganhar, pegar, carregar, trazer, guardar, pôr. Ficô muito cuete sem caxá ingura
(Ficou muito rapaz sem receber). Que tal o sinhô caxá duas candombora. (Que tal
o senhor pegar duas galinhas?)
Conema: fezes, diarreia
Conjema: morte, cemitério
Conjolo (ô): Casa, residência. Por ext.: prédio, repartição, etc.
Conjolo de Conena: Banheiro, instalações sanitárias
Conjolo do Granjão: Igreja
Conjolo dos Viriangos: Cadeia. Por ext.: batalhão.
Coreã de Gombê: Chifre
Coreã: Chapéu, cobertura
Covera, corvera: doença
Cuete (ê): Homem, moço, rapaz, cara, sujeito. Por ext.:
macho.
Cuete: homem.
O cuete é tibanga. (o cara é bobo).
Cuetim: menininho
Cumba do
Bélude: Sol
Cumba do Oteque: Lua
Cumba: Luz, lâmpada
Cumba: sol
Cumbara: cidade
Cumbaro: Cidade
Cumicove: Quitanda, salgado, tira-gosto
Cureio: Comida, almoço, janta, ceia. Num tenho ingura pra comprá cureio (não tenho
dinheiro pra comprar comida).
Curiá: comer (no sentido literal e figurado)
Curimba: Trabalho, ocupação, ofício
Curimbá: trabalhar
Curimbadô: trabalhador
Curimbar: Trabalhar
Cuxipa, cuxipo: vagina ou nádegas
Cuxipar: Sin. Rastar Cuxipa.
Encachar: Sin. Cachar.
Erpido: pênis.
Esquife: Cama, leito
Fute: Céu, firmamento, ar
Gombê: Gado, vaca, boi
Gombezim: bezerro
Granjão, Garanjão: Deus, o Todo-Poderoso.
Grozope: cerveja
Grozopiado: bêbado
Imbanje:
irmão
Imbera: Chuva
Imbiá: cigarro
Imbondo: Qualquer objeto, coisa. (muita gente hoje diz que
não vai almoçar, vai comer um imbondo mesmo)
Imbuete: árvore
Imbuta: cobra
Inca: ânus
Indanga ou Inganga: padre
Indu: feijão
Ingira: Carona, transporte
Ingirar: Andar, fugir, correr, voar, sair, sumir, escafeder-se, jogar (pedra ou objeto),atirar etc.
Ingora: mula, cavalo, jumento
Ingura Avura: Rico, cheio da nota
Ingura Catita: Pobre, pobretão, sem dinheiro. Sin.: Tchapo
Ingura: Dinheiro, numerário, riqueza
Injará: andar,
correr, sair
Injara: Pênis
INSU: azedo
Janô: ânus
Jequê: buraco.
Jequetiotada:
esburacada.
Longado: andar, gingado, rebolado
Mantambu: Mandioca
Marcanjá: fumar
Marcanjo Cafuvira: Fumo de rolo
Maruco: litro
de cachaça
Massarundá: banana
Matambu: mandioca
Matuaba no Tué: Bêbado, borracho, bebum
Matuaba: Bebida alcoólica, cachaça.
Mavera, mavero: leite, peito, seio.
Mingüé: Gato, felino (masc. ou fem.).
Mingué: gato
Missango: Arroz
Missongue:
dinheiro
Moná: criança
Mongo, Mungo: sal
Montecristo: carvão
Moxé: sapo
Ocaia de
cuxipa: prostituta.
Ocaia do cuete: mulher do homem.
Ocaia, ocora: mulher velha.
Ocaia, ocaio: mulher. A ocaia cafuvira tem mavero avura. (A
mulher preta tem o seio grande). Mulher, moça, garota, fêmea, etc.
Ocainha: menina
Ocora: Homem velho, pai. Mulher velha, mãe
Oli: branco
Omana. Irmã.
Oman: Irmão
Omenha do Fute: Sin. Imbera.
Omenha: Água, água potável.
Opepa: Bonito, bom. Pessoa loura
Opepa: bonito.
Orangê: Cabelo, cabelos
Orelo, orela: gordura. Essa cuete tem muita orela nos
tinhame. (Esssa mulé tem muita gordura nas pernas).
Orongó: Cavalo, égua
Oronha: Relógio
Orufim, urufim: peixe
Orum de gombê: carro de boi
Orum do mavera: Carro do leiteiro
Orum, Orumo: carro
Oteque (ê): Noite
Oveva: Torto, feio, atrapalhado, machucado
Percinê: Óculos
Prancheio: queda. (pranchiô no chão) Caiu no chão.
Protiuda: nádegas
Pungue/ Bugre: Milho
Rastar
Tiprequé: Dormir, deitar-se
Sengue: Roça, mato, mata
Tata: genitor, pai
Tchapo: Esfarrapado, maltrapilho, roto, estragado, inutilizado, etc. Sem dinheiro, pobre.
Teia: tatu. Fomo caxá teia. (Fomos caçar tatu)
Tibanga: Bobo,
idiota, imbecil, otário, inepto, simplório, ingênuo, boçal, parvo, etc.
Tibanga: bobo. As ocaia aqui num é tibanga. (As mulheres aqui
não são bobas).
Tibangão: mais bobo ainda, bobão
Tibanguara: Sin. Tibanga.
Timbuá:
mão
TINHAME: pé, perna, braço
Tinhame:
perna
Tiparo: Olho
Tipequera: cama
TIPLOQUE: sapato
Tiploque.
Sapato, calçado de um modo geral.
Tipomo: chapéu
Tipoque,
tiproque: sapato. (Nome dado por causa da onomatopeia do sapato)
Tiporê de Uíque: Laranja, tangerina
Tiporê: Fruta
Tiprequé: Ver Rastar Tiprequé
Tipurá: olhar,
vender, saber, falar, flertar, pegar, possuir, apreciar. Tipura a ocaia. (Olha
só a mulher).
Tipurada: olhada
Tipurar: Olhar, observar, ver, etc.
Tué, tuezão: cabeça, cabeção
Tué: Cabeça, crânio, cérebro, inteligência, etc.
Turisco: Pedra, seixo, cascalho, rocha
Uarrufo:
bravo, forte
Uíque: Doce, coisa doce, açúcar
Undara, indaro: fogo
Undaro: Fogo, fósforo, isqueiro, etc.
Unde: sol
Urufaco:
calçado, sapato
Uruma de Equilíbrio: Moto, motocicleta, motoneta, lambreta,
vespa
Uruma de Orongó: Carroça, charrete, etc.
Uruma de Pedal: Bicicleta
Uruma de Tempo: Sin. Oronha
Uruma: Carro, veículo. Por ext.: máquina
Urunanga. Roupa, vestimenta, calça, camisa, vestuário
Vianjê : cana
Viriango: Soldado, policial, polícia, meganha, samango, etc.
Viru: defunto
Vissongue: Dinheiro (pouco usado, antiquado). Sin.
Ingura
Vizunga: baile
Xapixape: comida
Imagem com lugares usando a Língua Tabatinga.
![]() |
Canjolo "Casa" das artes. |
![]() |
Pousada "Criança" camunin |
Tipura que cuete é viriango
“Cuidado, que o homem é policial”
Caxei o imbuete na cuxipa da ocaia
“Essa aí já ¨*(#¨%! ”
Cuete catiolá
“Ele é ladrão”
Para ler um documento elaborado por Maria Margarida Taddoni Petter da Universidade de São Paulo, clique AQUI.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gira_da_Tabatinga
http://ccbeu.com/blog/os-idiomas-mais-estranhos-falados-pelo-mundo-afora/
http://www.soniahirsch.com/2012/08/gira-da-tabatinga-lingua-que-outros.html
https://www.youtube.com/watch?v=mK7x1X_eUVk
https://www.ufmg.br/boletim/bol1451/quarta.shtml
http://www.bomdespachomg.com.br/tabatinga.php
http://www.mgquilombo.com.br/site/Artigos/bens-quilombolas-materias-e-imateriais/dona-fiotinha-e-a-lingua-da-tabatinga.html
http://emiliojunior.zip.net/arch2007-09-30_2007-10-06.html#2007_10-01_22_09_47-125685341-0
http://www.mgquilombo.com.br/site/Artigos/bens-quilombolas-materias-e-imateriais/a-lingua-calunga-de-patrocnio.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bom_Despacho
http://www.senhoradosol.com.br/
http://www.fflch.usp.br/dl/indl/Extra/Bom_Despacho.htm
http://www.risanet.com.br/revista-risa-calcados/risa-revista-calcado/fascinante-lingua-tabatinga/
http://www.ebc.com.br/infantil/ja-sou-grande/2013/10/voce-sabia-que-no-brasil-sao-faladas-mais-de-200-linguas
http://quilombolasmg.org.br/index.php/tabatinga
http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=108
0 Comentários