UM GUIA NÃO DEFINITIVO DE EXPERIÊNCIA E VISÃO PESSOAL NA TERRA DOS AYMARÁS

É primordial iniciar essa matéria afirmando que a Bolívia foi uma das experiências mais ricas de cultura que já pude presenciar, diferente de tudo que já conheci, afirmo que não sei se tenho pretensões de poder voltar a essas terras, mas nunca poderei esquecê-las.

Saindo de casa

Com pouco tempo de planejamento, consegui fazer bons planos para ir à Bolívia. Acredito que o pouco das experiências anteriores, foi bom pra melhorar a maneira que me organizo pra viajar. Mas, dessa vez, de propósito, quis que fosse diferente. Tudo por rumo ou melhor, sem rumo... ia pra uma cidade qualquer e teria que me virar, de lá,  ir pra outra sem saber se tinha ônibus, até chegar ao destino final. Essa decisão não foi nada fácil, por conta dos riscos. Mas como sou medroso e ao mesmo tempo sou fã de desafios, tive que tomar todas as doses de coragem para realizar esse feito, senão caso contrário, nem teria saído de casa. 

     A saída de casa foi quase sem dó, nem piedade, estava indeciso sobre ir ou não ir dessa vez, havia alguns problemas recentes em casa, que me preocupavam um pouco, estava um pouco triste em sair pra outro país sem ter a mente tranquila. Mas fui assim mesmo, com o apoio de minha família, vontade e planejamento, se eu não fosse, iria ficar chateado comigo mesmo depois.


Ônibus a caminho de Campo Grande/MS
















Itens levados na vigem "Bolívia sin fronteras"

01 – Mochila média, com vários bolsos
Passaporte
Identidade
Cartão de Vacina
Squeeze (garrafinha) para água
02 – Óculos escuros
01 – Cobertor (Para caso de frio que esteja fora dos planos ou para dormir no ônibus).
02 – Toalhas para banho
01 – Celular
02 – Agendas para anotações
02 – Canetas
Dinheiro vivo
Cartão travel money
01 – Escova para cabelo

COSMÉTICOS
02 – Sabão comum para banho normal
01 – Sabão líquido para banhos rápidos
01 – Escova de dentes
01 – Pasta de dentes
01 – Desodorante Spray
01 – Perfume

ELETRÔNICOS
01 – Pen Drive SanDisk 8GB
01 – Micro SD 4GB
01 – Adaptador Micro SD
01 – Câmera Samsung 14Mpx HD
01 – Cabo de energia da câmera digital

ROUPAS
02 – Camisa social
03 – Bermuda curta
02 – Calça Jeans
02 – Camiseta para malhação
07 – Camisa comum
01 – Camisa manga comprida
01 – Cinto para calças
06 – Pares de meia
04 – Cuecas
01 - Sunga

CALÇADOS
01 – Tênis esportivo
01 – Tênis casual

29-12-2015

     Na cidade de Luz-MG, passagem comprada com destino a Campo Grande-MS, escalada em São José do Rio Preto-SP, agora não tem mais volta, estou novamente pegando a estrada...

     Normalmente a ida é sempre tranquila, quase nunca é desgastante, normalmente sempre dou sorte de ir em poltronas vazias, então, deito cruzado nas duas, assim é possível dormir deitado. Sempre escolho as poltronas de maneira estratégica, de maneira a prever algum acidente qualquer. Para saber quais são as poltronas mais seguras, veja a imagem abaixo, eu particularmente escolho sempre a 24:

Campo Grande - MS

     Após 22 horas de viagem, estou em Campo Grande-MS, essa cidade é diferente de tudo que se fala ou que se tem ideia do ponto de vista estereotipado que já existe, quando falamos que uma cidade está no Pantanal, nós normalmente imaginamos leopardos por toda parte ou que colocar a mão na água, piranhas assassinas irão nos devorar inteiro, ou pássaros saem voando por toda parte e que a tarde é sempre um desenho artístico. Convenhamos, não é bem assim, é uma cidade como qualquer outra no Brasil, mas impressiona pela organização. O Mato Grosso é um estado em constante crescimento, existem novas empresas por toda parte, assim como novas fábricas. 

     Cheguei ao Terminal Rodoviário CTRCG - Antônio Mendes Canale por volta das 4 da tarde, fiquei em dúvida entre ficar em Campo Grande ou seguir a viagem, então decidi "seguir chão", e deixar Campo Grande para outra oportunidade. A maior atração da cidade é o conhecido City Tour, um ônibus com estilo europeu, com a carroceria aberta na parte superior, onde o turista fica vendo os principais pontos turísticos da cidade, vale muito a pena fazer o tour, embora eu não o tenha feito, só ouvi bons comentários sobre.
Terminal Rodoviário CTRCG - Antônio Mendes Canale
     Caso queira conhecer o City Tour clique AQUI.
     Meu ônibus com destino a Corumbá, sairia somente às 00:30hs, então tive que procurar um bom lugar pra comer. Encontrei um lugar ao ar livre, barato e muito bom por sinal, além de ser bem perto do terminal rodoviário, caso queira comer algo lá, basta sair do terminal, atravessar as faixas de pedestres até chegar ao outro lado das duas avenidas que estão paralelas e ir para a direita, está a uns 150 metros.


Jantinha da noite, antes de rumar para Corumbá
     Ainda no terminal rodoviário, esperando infinitamente o ônibus das 00:30hs, uma senhora passou mal no banheiro para portadores de necessidades especiais, tiveram que literalmente retirar a porta do banheiro para ajudá-la, ao meu lado estava um soldado da Marinha Brasileira indo para a mesma cidade, peguei o máximo de informações sobre a cidade, sobre os roteiros dentro dela e como deveria fazer para atravessar até o lado boliviano. Fui dormindo no ônibus, até acordar as 5 da manhã, logo as 6, estava em Corumbá, pronto para atravessar para o lado Boliviano. Na foto abaixo, é possível ver o terminal rodoviário de Corumbá, a foto foi tirada a partir do lugar onde os ônibus chegam, para atravessar para o lado boliviano, não existe nenhuma opção mais apropriada, senão pagar um táxi ou mototáxi, "facílimo" de encontrar (como milagre, aparecem taxistas por todas as partes, oferecendo viajem para atravessar para o outro lado), basta ir para a rua que está logo ao lado do terminal. Essa cidade não tem muitos atrativos, então decidi passar para a Bolívia o mais rápido possível. Sete minutinhos de moto, por 15 reais.
 Em dia de feriado, como foi o meu caso, não reclame, a alfândega não abre cedo, abriu em torno das 8 e meia, então, eu que cheguei logo as 7, tive que ficar sentado, congelando o meu traseiro no chão frio, não tente atravessar sem passar pelo lado brasileiro, porque um visto de saída do Brasil é importante e requerido no lado boliviano. Se possível leve cartão de vacinas, eles não pediram o meu, mas, pode acontecer de pedir, e caso não tenha, terá problemas para entrar por essas bandas. Embora pareça irônico, é verdade.



Limite fronteiriço Brasil-Bolívia
     A primeira vista, na verdade em todas as vistas, a Bolívia é um país rico em cultura, natureza, humildade e autêntico em humanidade, por outro lado é mal preparado para receber o turista, não existem banners, cartazes, indicativos, placas, muito menos guias, e é pobre financeiramente e estruturalmente, pobre, muito pobre. A melhor parte, pra quem tem medo de encarar o desafio, a Bolívia é segura, tão seguro viajar pra lá quanto viajar pela Inglaterra ou França. As provas estão aí embaixo.

Vejas as provas da segurança na Bolívia, clicando AQUI e AQUI.


     Inclusive, faz partes de diversas pesquisas pelo mundo, sobre a associação da pobreza com a violência, a Bolívia é atípica nesse aspecto, levando em consideração a segurança, quando comparada com seus vizinhos.

Puerto Quijarro/ Puerto Suárez - Bolívia

     A chegada não foi nada contagiante, um calor infernal, pessoas por todos os lados vendendo aos gritos, e eu sem rumo, devido a falta de avisos e indicadores. 

Moedas bolivianas
     Na aduana que fica na cidade de Puerto Quijarro, conheci duas mulheres, uma brasileira e uma portuguesa, nisso, decidimos na hora, seguir parte do percurso juntos, assim poderíamos economizar, trocar conhecimentos e viajar com "segurança". Logo, vimos um senhor numa van, e pagamos 10 Bolivianos (Moeda da Bolívia), cerca de R$ 2,50, para nos levar até o terminal de ônibus de Puerto Suárez. Não existem muitas opções nessas duas cidades, a maior atração são as comprar, o mercado respira indecentemente nessas duas cidades, que atraem turistas brasileiros para comprar, por conta dos baixos impostos aplicados. Uma excelente opção, é atravessar todo o país de trem, saindo de Puerto Quijarro, mas, exige paciência, todos os trens saem lotados, e caso queira essa opção deverá se hospedar na cidade até que apareçam vagas disponíveis, de alguma forma a economia da cidade funciona com isso, hospedagem, comércio e turismo. Embora quisesse muito, não segui a viagem te trem. Mas de ônibus é compensador também, no aspecto financeiro nem se fala, um dos trasportes mais baratos da América é o boliviano, é possível atravessar o país inteiro pagando R$40,00 ou R$300,00, claro que isso define a "qualidade" dos ônibus, enfim, atravessei o país por uns R$90,00. Se tivesse de avaliar o conforto em 10, daria nota 4, assim que é bom.

Pegando uma viagem até o terminal de buses
Estradas, um longo caminho

     As estradas bolivianas são perigosas, sinuosas, falta iluminação e sinalização. Normalmente um bom mochilão se faz durante a noite, para evitar pagar hostel, mas nesse caso, viajar bela Bolívia na parte da manhã ou a tarde é bem melhor, com vista dos riscos de sofrer um acidente pela noite, e isso é muito comum no país, as estradas matam muito. Muitos blogs relatam experiências desagradáveis nessas estradas.

Duvida que as estradas são perigosas? Clique AQUI e AQUI e arrepie um pouco.


Parada de ônibus no "nada".


"Feliz" Año Nuevo


      A chegada em Santa Cruz de la Sierra, coincidiu com o ano novo, onde é proibido comemorar nas ruas e soltar rojões. Tudo fechado, sem lugares pra ir ou conhecer, e como cheguei a noite, o clima não era lá dos mais amigáveis. Então, fiquei pouco na rua bebendo a cerveja mais amarela e transparente da minha vida, Cerveza Paceña, que significa, vinda de La Paz, com a companhia de um guia que se tornou amigo e das duas novas companheiras de viajem, fomos levamos até um hotel (um bom hotel), pagamos R$60,00, reclamamos muito o preço, mas ficamos por aí mesmo. Com o objetivo de seguir a viajem, provavelmente encontrar um ônibus no feriado nem seria um sacrifício, mas, um sacrilégio. Em resumo, mais uma preocupação para o amanhã... Como sair de Santa Cruz de la Sierra.

Cerveja Paceña da Cidade de La Paz
Goku, salvando o Mundo na Bolívia
No Hotel me sobrou ver um pouco de TV até sentir sono para recomeçam minha caminhada, descobri da Bolívia, que Goku também salvou o mundo e morreu por todos nós.
Estradas, um caminho ainda mais logo

   O prato na foto abaixo se chama majadito (tradução para machadinho), é tipicamente boliviano e custa em torno de  R$6,00, não tem como descrever o sabor com perfeição, até mesmo porque é diferente de tudo que conhecemos, e visualmente não é bonito (nem tão saboroso), mas é capaz de fazer ficar muito tempo sem precisar comer. Feito com arroz temperado e batido, ovo frito e banana verde frita.
Terminal de ônibus de Santa Cruz de la Sierra
Majadito, prato típico de Santa Cruz de la Sierra
     Numa quinta-feira "brava", feriado de ano novo, nada funcionando, acordei bem cedo pra continuar. Fui diretamente para o terminal de Santa Cruz de la Sierra. Vazio. Do lado de fora, empresas clandestinas de turismo, com seus ônibus da década de 80, oferecendo passagens baratinhas para levar para várias cidades. Claro que aceitei e comprei a minha, afinal não é todo dia que se encontra uma boa promoção, ainda mais uma promoção internacional.  :)

     Por dentro do ônibus, tive a certeza que ele nunca passou por uma limpeza na vida, quando me assentei, minha roupa colou na poltrona, para chegar até Cochabamba, faltam 8 horas e meia. Pelo caminho, paisagens maravilhosas, subindo infinitamente os andes e desejando que o ônibus não caia pelos precipícios de mais de 3 mil metros de altura e mate todo mundo com os motoristas clandestinos, mal preparados e cochilando algumas vezes pelo trabalho excessivo.


Cidade de Cochabamba
Cuidado com a montanha

     Enquanto a viagem seguia, eu me sentia cada vez pior, como se estivesse muito doente, dores de cabeça com muitas fincadas, tonteira, mãos frias, respiração ofegante, cansaço. A altitude faz isso e tem nome, mal da montanha, doença das alturas, hipobaropatia ou para o povo boliviano, soroche, normalmente ao alcançar 2400 metros acima do nível do mar, a pessoa fica exposta a baixa pressão de oxigênio e consequentemente sente seus efeitos, incrível, mas, o que eu sentia eram apenas pequenos efeitos, pelo que pesquisei, não há como sobreviver para contar dos grandes efeitos, são fatais e nunca se sabe quem poderá senti-los. Mesmo assim, vomitei todos os dias, acordei umas 5 vezes por todas as madrugadas, não conseguia segurar algumas coisas por conta da dormência nas mãos, perdi 8 quilos.

     Apenas para esclarecer, a palavra soroche significa "minério", existiam crenças antigas que o mal era causado pelo ar tóxico dos minérios das montanhas andinas.

Quarto alugado em Cochabamba
Terminal de ônibus de Cochabamba
Oruro - Vista do Teleférico

Tudo na sacola

     Sim! Tudo na sacola. Quando vi um senhor vendendo refrigerante no ônibus, logo pedi um, ele abriu a garrafa, retirou uma sacolinha num bolsinho lateral, colocou o refrigerante nela, enfiou um canudinho e pronto, é meu refrigerante na sacola. 
     Em um dado momento estava com muita fome e procurei por comida antes de embarcar, comprei uma sacola com comida, ovo cozido, carne seca, duas batatas cozidas, milho e molho de tomate.


Comida no ônibus, na sacola




Seguindo rumo ao norte do Chile



Trajeto total da Viajem
A Felicidade não conhece o dinheiro

O resumo dessa viagem foi esse, uma nova lição para a vida. É muito fácil ouvir dizer por aí que o dinheiro não compra a felicidade, mas, convenhamos, na prática ninguém é capaz de limitar ou extinguir seus "capitalismos" para ser realmente feliz. Vi mulheres lavando roupas nas beiras dos rios, homens indo para o campo pela manhã, crianças brincando na rua, sujas de poeira ou lama, rindo, rindo e rindo, são felizes, e autênticos com essa felicidade, não sentem vergonha de suas raízes, se orgulham de sua terra e de seu povo.






Fontes:
http://blogs.elpais.com/3500-millones/2011/07/inseguridad-en-america-latina-viajo-o-no-viajo.html
http://www.mochileiros.com/e-seguro-viajar-pela-bolivia-t83296.html
https://pt.wikipedia.org
http://flightsafety.org/hf/hf_may-jun97.pdf
http://www.torrinomedica.it/studio/maldimontagna.asp
Arquivo pessoal
Relatos pessoais

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