Flávio Júnior dos Santos Lopes
Graduando em letras – espanhol pela Universidade Estácio de Sá.
Maria Paz Pizarro Portilla
Professora das Faculdades Integradas da Universidade Estácio de Sá.


Resumo
O referido estudo tem como objetivo explanar a importância da língua espanhola para a educação brasileira, assim como a compreensão dos desafios impostos e propostos pela atual conjuntura global. Como as escolas, no século XXI, abordam determinados temas, principalmente culturais relacionados à língua espanhola, quais os efeitos, atual e futuro, da ausência da mesma na grade de ensino, além dos caminhos a seguir para uma consolidação satisfatória do ensino da língua espanhola nessas instituições e os caminhos promissores que poderiam ser abertos em um futuro próximo. A aplicação do método se dá exclusivamente por revisão bibliográfica. Situando que a atual compreensão da realidade global faz com que no Brasil a demanda pela procura e aprendizado da língua espanhola passe por um déficit em sua implementação, esse que se percebe na ausência da língua nas grades curriculares do ensino regular propondo desafios futuros para sua construção e crescimento na cultura brasileira.  
Palavras-chave:
Língua espanhola, educação, língua inglesa, tecnologia, Brasil, cultura.

Abstract
El referido estudio tiene como objetivo explanar la importancia de la lengua española para la educación brasileña, así como la comprensión de los desafíos impuestos y propuestos por el actual escenario global. Cómo las instituciones educacionales brasileñas, en el siglo XXI, abordan determinadas temáticas, principalmente culturales relacionadas a la lengua española, cuales los efectos, actuales y futuros, de la ausencia de la referida en los planes para la enseñanza, los caminos a seguir para una consolidación satisfactoria de la enseñanza de la lengua en las instituciones y los caminos a promisores que podrían ser abiertos en un futuro próximo. La aplicación del método se ocurrió exclusivamente por revisión bibliográfica. Observando la actual situación de la realidad global se hace con que en el Brasil la demanda por la búsqueda y aprendizaje de la lengua española pase por un déficit en su implementación, lo mismo que se percibe en la ausencia de la lengua en los planes curriculares de la enseñanza en Brasil propone así desafíos futuros para su construcción y crecimiento en la cultura brasileña. 
Palabras-clave:
Lengua española, educación, lengua inglesa, tecnología, Brasil, cultura.




INTRODUÇÃO 
Atualmente, a maioria das instituições educacionais no Brasil, tanto de ensino regular como técnico privado têm como base no ensino da língua estrangeira, o inglês, umas das mais importantes no cenário global.
N’outro ponto de vista, paralelo a esse, está a língua espanhola ou castelhano, que poderia ser objeto de estudos ou até mesmo de aperfeiçoamento entre os alunos das redes pública e privada, visando uma plena integração aos países latinos e Europa Meridional, oferecendo oportunidades e abrindo fronteiras além do âmbito nacional.
A proximidade territorial do Brasil com países falantes da língua espanhola, muitas vezes é capaz de criar uma falsa narrativa sobre proximidade cultural e linguística. Pertinente também, é sua extensão territorial dentro da América do Sul, colocando o país em uma posição de hegemonia territorial e cultural em todo um hemisfério do continente, não justificando a não necessidade do conhecimento e reconhecimento das culturas e línguas dos povos que receberam influência direta dos espanhóis.
De acordo com os estudos de Parejo e Soares (2013) que o ensino do espanhol no sistema educacional brasileiro contribui para a eliminação de estereótipos, prejuízos e discriminação; propicia o entendimento, a tolerância e o respeito mútuo entre as identidades e diversidade cultural”, assim como a importância que tem o ensino da língua estrangeira para “conhecer a si mesmo”, “conhecer o outro” e reflexionar sobre sua própria cultura e identidade, o que portanto, justifica esse trabalho.
Pretende-se, através de revisão bibliográfica explanar a importância da língua espanhola para a educação brasileira, além de compreender os desafios impostos e propostos pela atual conjuntura global.

DESAFIOS DA LÍNGUA ESPANHOLA NO BRASIL
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei Nº 9.394, aprovada em novembro de 1996, no Brasil, introduziu profundas reformas no sistema educacional nacional. Nessa década, tanto o Brasil como a Argentina passaram por essas reformas, que, introduzia línguas estrangeiras como disciplinas obrigatórias: uma língua teria que ser oferecida da 5.ª à 8.ª série no Ensino Fundamental, e outra seria oferecida nos três anos do ensino médio. Em uma visão técnica, a aplicabilidade da lei aprovada se tornaria muito imprecisa em relação a qual língua estrangeira deveria ser oferecida e como deveria ser ensinada: essas duas decisões ficam nas mãos das autoridades de educação locais. (GIL, G; 2009)  
Percebe-se, da década de 90 até o presente, um acentuado crescimento da língua inglesa como primeira língua estrangeira em âmbito mundial. Segundo Le Breton (2005) in Damianovic (2006), “o inglês está um pouco presente em todos os lugares do mundo”.
Em um contexto mais amplo, Rajagopalan (2005: 151) conceitualiza que a língua inglesa, essa, presente em todo o mundo, acabou se tornando uma referência como meio de comunicação entre diferentes povos. Ainda de acordo com o autor, O World English, que é a designação para o inglês global, assim citado pelo autor, é um “fenômeno linguístico sui generis, pois, segundo as estimativas, nada menos que dois terços dos usuários desse fenômeno linguístico são aqueles que seriam considerados não nativos” (RAJAGOPALAN, 2005: 150-151). 
Considerando-se a expansão da língua inglesa, sabendo que o mesmo se deu entre todos os países no mundo, inclusive o Brasil e os países falantes da língua espanhola, a busca e referência por uma língua que fosse aprendida e compreendida por uma considerada parcela de pessoas no mundo fez com que a língua espanhola, de certa forma, ocupasse um “lugar secundário”.
Na educação, principalmente, não foi diferente, o predomínio do inglês pode ser explicado, como dito anteriormente, pelo que a população tem como símbolo de ascensão social. “Há setores na sociedade em que o recurso do inglês se tornou uma necessidade, ou seja, quem se recusa a adquirir um conhecimento mínimo da língua inglesa corre o risco de perder o bonde da história” (RAJAGOPALAN, 2005: 149). Em contraponto, se referindo à língua espanhola, quando comparada com a inglesa, criou-se um estereotipado ponto de vista de uma importante parcela dos estudantes, que se referem à língua espanhola como uma “língua fácil”, isso em função de possuir uma relativa “proximidade” com o português. (VESZ, 2013: 823).
De fato, a língua espanhola se aproxima muito da língua portuguesa, palavras similares, expressões, proximidade física das regiões falantes das duas línguas e questões históricas, todos são referências dessa evidente proximidade, porém esse fator poderia ser explorado de uma maneira muito mais potencializadora.
No que tange ao prestígio, o inglês desponta, em geral, como a língua mais prestigiada, não só no âmbito do curso, mas também no cenário institucional mais amplo, por consequência da implementação de políticas públicas em vigor nos últimos anos, com vistas à internacionalização das universidades brasileiras, como os programas Ciência sem Fronteiras e Inglês sem fronteiras (este último transformado em 2015 em Idiomas sem fronteiras) (cf. JORDÃO e MARTÍNEZ, 2015, para a compreensão de uma visão crítica desse cenário).
A promoção da língua espanhola no Brasil é conferida a instituições espanholas, segundo Novodvorski, torna-se notória a presença de um discurso marcadamente mercantilista, quando o assunto é o ensino do Espanhol no país. As escolhas lexicais denotam uma tendência promocional. O posicionamento da Espanha, como principal articulador dos processos, encontra-se legitimado. O Instituto Cervantes se coloca na posição de formador (NOVODVORSKI, 2007, p. 3). As ações dessas instituições resultam no monopólio tanto da elaboração de material didático, assim como o consequente privilégio da variedade europeia da língua. Isso muitas vezes passa a ser um complicador dentro da realidade nacional, pelo simples motivo que, a cultura espanhola se apresenta mais distante, inclusive no aspecto geográfico com o Brasil quando comparada com praticamente todos os países da América do Sul e México.
É certamente muito vago afirmar que a língua espanhola de determinada região seria a correta a ser ensinada, até mesmo porque a quantidade de pessoas, nos mais diversos países que falam a língua, não falam de forma uniforme uma língua standard (Salvador, 1988:73-75). Se referindo ao inglês, autores como Haugen, fazem uma pergunta que pode ser feita igualmente para a língua espanhola, O que é o inglês standard? Pode-se afirmar que “não é a soma de todas as variantes do inglês, tampouco uma classe específica do mesmo. Uma língua standard exige ser ainda mais rica que cada uma das variantes que existem, e provavelmente é, na realidade, mais pobre, já que não dá respostas a todas as necessidades a todas as variedades de inglês (en Alvar, 1991:259).
A exemplo dessa absorção cultural da língua espanhola proveniente de países latinos, mais que da Espanha, estão aspectos da fala, além de músicas e novelas veiculadas pelas mais diversas mídias e consumidas pelos brasileiros (ZOLIN-VESZ, F; 2013). Uma importante referência do citado, é atriz mexicana Gabriela Spanic, que se tornou-se uma das atrizes mais conhecidas e respeitadas pelo público brasileiro no início do século XXI. (TV FOCO, 2017). Isso pode ser um dos exemplos do padrão a qual as pessoas no Brasil gostariam de se adaptar ao espanhol como LE. A “quase” obrigatoriedade de se propor um aprendizado baseado na cultura espanhola se torna um empecilho para novos adeptos à língua, interessados em cursá-la. (SANTOS, A. F. N. et al; 2013).
Juntamente com as novelas, outra grande porta de entrada para a cultura de língua espanhola no Brasil é a música, que, apesar do caráter polissêmico que tem, sua interpretação é individual, pois cada receptor pode compreendê-la de acordo com o seu conhecimento de mundo e suas crenças. A música, pela própria natureza de seu componente musical, possui uma intrínseca interculturalidade, pois pertence não só à cultura da língua original como também à cultura daquele que a ouve. (SALLES M, 2003).
Um dos maiores e mais promissores exemplos de música em língua espanhola na cultura brasileira é a canção Despacito, interpretada pelo porto-riquenho Luis Fonsi, até a presente data, a música havia alcançado quase 6 bilhões de acessos a nível mundial, no Brasil, por um período, foi de forma invicta, a música mais pedida do país de acordo com a Rádio Cultura FM (2018).
A música indiscutivelmente é um dos pilares da cultura humana, mais do que qualquer outra arte, tem uma representação neuropsicológica extensa, com acesso direto à afetividade, controle de impulsos, emoções e motivação. Ela pode estimular a memória não verbal por meio das áreas associativas secundárias as quais permitem acesso direto ao sistema de percepções integradas ligadas às áreas associativas de confluência cerebral que unificam as várias sensações. (MUSZKAT, 2012). 
Exemplo pode ser dado referindo-se à sensação gustativa, olfatória, visual e proprioceptiva as quais dependem da integração de várias impressões sensoriais num mesmo instante, como a lembrança de um cheiro ou de imagens após ouvir determinado som ou determinada música. O conjunto dessas atividades motoras e cognitivas envolvidas no processamento da música é chamado de função cerebral. Tal função exige várias operações mentais tais como interpretação de ritmos, harmonias, timbres, expressão motora, processos cognitivos e emocionais para a formação de um complexo de interpretação da música (MUSZKAT, 2012). Isso exemplifica a importância da música para a influência de uma determinada cultura, visto que nela, a sociedade se sente desde atraída até representada.
Mas até mesmo nesse aspecto, mesmo com o auge e toda a extensão ocupada por diversas canções latinas que vieram e ainda vem tendo um relativo sucesso após a de Luis Fonsi, inegavelmente o inglês ocupa um espaço de maior repercussão, assim como cantores e artistas falantes da língua inglesa são incomparavelmente mais conhecidos pelos brasileiros.
Para que haja uma aproximação, ou até mesmo uma identificação de outra cultura sobre alguma língua, é fundamental que haja a compreensão e diálogo entre elas para o processo de ensino-aprendizagem de línguas, pois a percepção se desenvolve a partir da própria cultura e na cultura da língua do outro. Esse processo torna evidente que o foco da aprendizagem de uma língua não pode ser somente as formas e estruturas linguísticas de um código diferente com o objetivo de debater as suas semelhanças e/ou as diferenças, mas sim uma troca de experiências de vida mediadas pela linguagem. (BRASIL, 1997, 2006; PARAQUETT, 2005; CANDAU, 2010).
Embora ainda exista, comparado com o inglês, um distanciamento ou isolamento da língua espanhola na educação brasileira, ela (a língua) se faz extremamente importante. As razões educacionais permeiam todo o contexto de desenvolvimento humano, mercadológico e cultural, principalmente quando se refere a perspectiva sobre o futuro. Em um sentido inverso, pode-se observar que muitos hispano-falantes buscam aprender o Português Brasileiro para diversos fins, tais como comerciais, acadêmicos e culturais. (SALLES M., 2003).
A influência do Brasil no continente, nos últimos vinte anos, especialmente, frente aos demais países do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), faz com que os países, principalmente os vizinhos, se aproximem, o que favorece a diversas atividades e amplia parcerias em prol de desenvolvimentos diversos. (SALLES M., 2003).
A cultura proveniente dos falantes da língua espanhola está presente na sociedade brasileira em todos os aspectos. As duas mantém uma constante troca de informações, é muito comum, inclusive, ver uma sólida mistura entre ambas nas fronteiras entre o Brasil e seus vizinhos. O intercâmbio linguístico se faz importante com eles e o contato entre falantes de línguas diferentes é um fenômeno acentuado. (SALLES M., 2003).  
Um fato importante, que contradiz um possível motivo da ausência em massa do ensino da língua espanhola na educação brasileira, é a admiração que a língua tem pelos brasileiros. Costumeiramente, após ouvir alguma expressão ou até mesmo ter o contato com um falante nativo, o não falante do espanhol, muitas vezes se arrisca a comunicar com aquilo que acredita que seja a língua, ou através do que absorveu em contato com outras comunidades ou outros meios.
Sabem que existe alguma similaridade, mas, normalmente a comunicação se dá de forma mediana. Com o déficit da oferta da língua através das instituições de ensino ou a ausência do conhecimento da mesma, cria uma mescla da língua-mãe com a língua espanhola. Observemos, por exemplo, as cidades Foz do Iguaçu e Ciudad del Leste, fronteira Brasil/Paraguai, locais onde há um intenso comércio e trânsito de falantes de diversas línguas, como o Português, o Espanhol, o Portuñol e algumas línguas indígenas, dentre as quais citamos o Guarani. Não é diferente nas cidades de Pacaraima e Santa Elena de Uairén, fronteira Brasil/Venezuela. (MOTA, F. P; 2006).
O Portuñol ou Portunhol é o reflexo de um processo conectivo da língua portuguesa com a espanhola, que evoluiu durante um determinado espaço de tempo com a troca de informações entre as duas línguas e se desenvolveu intermediando as duas, para muitos especialistas é inclusive considerado uma língua também, assim como suas genitoras.
NOVOS CAMINHOS NA EDUCAÇÃO
Muitas vezes, para entender o porquê da pequena presença de alguma língua estrangeira na educação brasileira podemos tomar como base a retribuição que os países se dão, em prol de desenvolver uma aproximação nesse aspecto, assim como o incentivo e a influência dada dentro do contexto educacional. Um exemplo é a Argentina, onde podemos observar que uma considerável parte das instituições educacionais têm realizado esforços para que a língua portuguesa tenha uma procura maior por sua população, embora, na atualidade, a demanda do ensino da mesma tenha crescido bastante e tenham aparecido vários cursos particulares que atendem esta demanda, fica claro que o governo argentino não parece ter feito grandes investimentos nessa área. (GIL, GLÓRIA; 2009).
Outra importante carência nos processos educacionais brasileiros, que são em parte responsáveis pela ausência de promoção e interesse, tanto da parte discente quando docente, isso ocorre pela falta de investimentos na educação nos níveis básicos, fazendo que toda a estrutura se volte para os níveis superiores da educação, embora as últimas décadas do século XX e o início do século XXI vêm marcados por profundas mudanças no campo econômico, sociocultural, ético-político, ideológico e teórico. (Frigotto & Ciavatta, 2002 in Frigotto, G e Ciavatta, M.; 2003). A educação se tornou parte de um processo de aperfeiçoamento do mercado de trabalho, com o pleno objetivo de cumprir os objetivos mercadológicos fazendo reposição de possíveis carências presentes no mesmo.
No que diz respeito ao trabalho docente propriamente dito, o “abandono da categoria trabalho pelas categorias da prática, prática reflexiva” (Freitas, 2003, p. 1.096) tem sustentado a utilização de expressões como “atividades” e “tarefas docentes”. É a materialização discursiva do esvaziamento desse trabalho, com a restrição do professor à escolha do material didático a ser usado nas aulas, durante as quais lhe cabe controlar o tempo de contato dos alunos com os referidos materiais, concebidos como mercadorias cada vez mais prontas para serem consumidas (Barreto, 2002).
A educação tecnicista e mercantilista em si, já proporciona um afastamento por parte da oferta e demanda de cursos de qualquer outra língua que não seja o inglês. Levando em consideração que atualmente os Estados Unidos são o país onde se concentra a maior taxa de produtividade no mundo, além de riqueza, seguido pela China, o aluno emergido em uma educação voltada plenamente ao mercado de trabalho irá naturalmente voltar seus esforços sentido à segunda língua que lhe proporcione maiores possibilidades de sucesso profissional e financeiro. Levando em consideração a complexidade do mandarim para os povos latinos quando comparada com a língua inglesa, é certo que o discente optará pela segunda.
Com a recente ascensão social vivida pelos brasileiros, iniciada no início do século XXI, foi proporcionada a possibilidade de conhecer (além da internet ou através de fotos) diversos países latinos, além da proximidade territorial e os baixos custos para transladar a escolha se dava pela aproximação com a língua portuguesa, essa melhoria possibilitou também que diversas empresas buscassem a expansão de seus negócios além do território nacional, visto isso, aprender a língua espanhola, se tornou importante para manter uma comunicação satisfatória com o outro, a procura por cursos particulares ou em escolas especializadas no ensino de línguas ou idiomas aumentou significativamente, com dados comparados desde 2008, no ensino privado, a procura aumentou consideravelmente.
Débora Schisler, diretora da Seven Idiomas, escola que há mais de 15 anos oferece aulas de espanhol, conta que a procura aumentou 38% nas unidades e 32% nas turmas corporativas (salas de aula dentro das empresas). (REVISTA EDUCAÇÃO, 2011). O crescimento se deu ao mesmo tempo em que o idioma estrangeiro passou a ser quase obrigatório no currículo, mas o sucesso dos cursos oferecidos pela escola é reflexo de um trabalho que começa bem longe das salas de aula: no momento da escolha dos franqueados. (GLOBO, 2014).
A tecnologia e seus avanços atuais é um dos recursos que têm mais ajudado a língua a tomar um lugar de destaque, e isso avança inclusive e principalmente pela educação. Adquirir um livro, ler ou ouvir um conteúdo em língua espanhola era uma tarefa difícil há alguns anos, atualmente é possível desde comprar materiais didáticos vindos de qualquer país desejado, como também é possível fazer um curso totalmente pela internet, sem precisar se deslocar. Paloff e Pratt (2002) mencionam que os cursos constituídos através de comunidades virtuais colaborativas podem ter dois tipos de avaliação da aprendizagem: uma de caráter somativo, ocorrendo ao final do curso, que é, segundo os autores, o modelo utilizado pela maioria das instituições acadêmicas; o outro modelo é o formativo, caracterizado pela dinâmica contínua, de modo a ter a possibilidade de ocorrer em qualquer momento do processo. (OLIVEIRA, Gerson Pastre de. Estratégias multidimensionais).
Não há dúvidas que a internet, literalmente revolucionou a forma com que as pessoas se comunicam, neologismos passaram a atravessar fronteiras nacionais em um espaço de tempo surpreendente comparado com tempos anteriores, notícias podem ser espalhadas e absorvidas numa proporção nunca antes imaginada. Notícias de grandes acontecimentos que em uma determinada época durava um certo tempo para chegar ao outro lado do mundo, hoje, são difundidas em segundos, e os impactos dessa velocidade são muitas vezes imediatos.
Para muitos, a língua da internet é o inglês. Essa visão, porém, não é mais válida. Com a globalização da internet, a presença de outras línguas tem aumentado constantemente. Até 1998, um número amplamente citado afirmava cerca de 80% da Net era em inglês. Esse total se originou do primeiro grande estudo de distribuição de línguas na internet, realizado no ano anterior pela Babel, uma iniciativa conjunta da Internet Society e da Alis Technologies. Desde então, as estimativas para o inglês vêm caindo constantemente, especialmente para o alemão, japonês, francês e espanhol. (CRYSTAL D, 2005). A língua espanhola na maior enciclopédia virtual do mundo, a Wikipédia.org, aparece como a quinta maior detentora de artigos, ultrapassando o mandarim, o italiano, o japonês e o português (WIKIPEDIA.ORG, 2018) isso exemplifica o quanto os falantes da língua espanhola contribuem para a divulgação de conteúdo na referida língua, atuando no compartilhamento de informações de cunho acadêmico ou não.
Sabemos que o mundo mudou e estamos inseridos na contemporaneidade, marcada pela globalização, pelo hibridismo e pelo multiculturalismo, logo, isso também reflete diretamente nas relações em sala de aula. As sociedades sempre foram múltiplas e complexas, mas, atualmente, com a expansão urbana (GARCÍA C, 1997)  se intensificou a hibridação cultural. As notícias chegam pela Internet e podemos nos comunicar com pessoas de todas as partes do mundo, seja pelo computador, celular, tablet. Não podemos conceber o ensino de línguas na contemporaneidade sem levar em conta alguns dos aspectos e atividades mencionados anteriormente. (ESPANHA, 2006).
As línguas sempre estiveram em contato com outras. Todas elas sempre tomaram empréstimos de outras. E nenhuma comunidade linguística jamais obteve sucesso ao tentar impedir que esse processo acontecesse. A única forma de se conseguir isso seria afastar a própria língua do contato com outras. Mas ninguém deseja o isolamento social e econômico que essa política acarretaria. (CRYSTAL D, 2005).











Considerações Finais
As línguas evoluem em velocidade e tempo no qual não se pode determinar. As tecnologias e a velocidade de informações fazem com que a comunicação esteja cada vez mais acelerada, onde as pessoas buscam informações em várias línguas e com a dificuldade reduzida de traduzi-las ou até mesmo aprendê-la. A evolução das linguagens não pode ser determinada, nem sequer controlada ou ajustada por nenhum povo, as línguas nada mais são, que a identidade de uma cultura expressada em sua fala.
Os futurologistas não encontram dificuldades em prever cenários nos quais, por exemplo, o árabe, o chinês ou o espanhol se tornam a próxima língua mundial. O espanhol é de fato a língua materna que cresce com mais rapidez no mundo atualmente. Aprender uma língua é ter imediatamente direito a ela. (CRYSTAL D, 2005).
A parte importante desse fato na cultura brasileira é sua aproximação cultural, geográfica e econômica com os países falantes da língua espanhola na América, o crescimento da língua espanhola no mundo, principalmente nos Estados Unidos, o crescimento da economia dos países vizinhos e a aproximação cultural entre o Brasil e os espano-falantes, proporcionada principalmente pela tecnologia e o intercâmbio cultural abre portas para novos rumos na educação. A língua espanhola não deixa dúvidas de que ainda será extremamente promissora na educação brasileira, isso não diz que ela não seja atualmente, mas, refere a pouca importância que na conjuntura atual lhe é dada.
Assim como acontece no cenário atual com a língua inglesa, como ocorreu em um passado recente com a língua francesa, uma série de neologismos foram e são criados como sinal de intercâmbio e conexão entre as culturas.
Pessoas fazem empréstimos e alimentam um processo de troca praticamente permanente de suas culturas por meio da comunicação. Quando uma língua se espalha, ela muda. O simples fato de que partes do mundo diferem tanto uma das outras, física e culturalmente, significa que os falantes têm inúmeras oportunidades de adaptar a língua, para satisfazer suas necessidades de comunicação e adquirir novas identidades. (CRYSTAL D, 2005).
A população latina nos Estados Unidos tem acrescido nos últimos anos. A troca de informações entre os Estados Unidos e as culturas espano-falantes nunca foi tão acentuada. A possibilidade que esse fator continue em aceleração é grande
“Além de espetacular, tal crescimento foi extraordinariamente rápido, pois na realidade foi em 1970 que começou um grande fluxo de emigração que, a partir de então, passou a crescer exponencialmente. O censo de 2010 constatou um aumento na população hispânica de 15,2 milhões entre 2000 e 2010, representando mais da metade dos 27,3 milhões de aumento da população total dos Estados Unidos. Isso significa um aumento da população hispânica em 43%, ou quatro vezes o crescimento do país, de 9.7%2.” (ESTADOS UNIDOS, 2012)
Se referindo à maior potência econômica do mundo moderno, a que é a maior exportadora de cultura para os países latino-americanos, e a importância que o mesmo exerce nas políticas mundiais, a adequação e implementação de forma extensiva, além da oferta e demanda da língua espanhola na educação brasileira no Brasil encontra espaço próspero em um futuro próximo, levando em consideração o grande importador cultural que é o Brasil atual.
Se faz importante, em todos os meios educacionais, conscientizar a importância da língua espanhola aos discentes, isso não só aproxima os mesmos a essa cultura, como também cria um ambiente mutuo de respeito para com cidadãos dos países que a tem como língua oficial.
Em outro ponto de vista, uma eventual mudança na estrutura das políticas públicas, visando acordos bilaterais com países latinos e não mais como blocos, poderia fomentar um novo ciclo de busca pela língua espanhola, com vistas que, a integração e efetivação das trocas de produtos e informações, se daria pelos respectivos negociadores através, principalmente da aproximação econômica e estratégica, Ao analisar o quadro evolutivo da presença do espanhol como LE na educação básica brasileira, podemos perceber as suas várias faces ao longo da história até chegar à atualidade.
Concluindo que a escolha do ensino de LE sempre esteve atrelada a fatores econômicos, culturais e políticos. No entanto, a oferta de um idioma estrangeiro deveria estar pautada também em sua comunicação real. (SALVADOR A; SANTOS L, 2008) Os diferentes elementos que a compõem estarão presentes, dando amplitude e sentido a essa aprendizagem, ao mesmo tempo em que os estereótipos e os preconceitos deixarão de ter lugar. (BRASIL, 2007).
Deixar de cultivar a língua, não investir em sua disseminação, não prover estruturas e recursos para que ela seja transmitida através dos povos cria um isolacionismo capaz, inclusive, de fazer mal à cultura.
Aprender uma nova língua e dar espaço para que ela possa ser aprendida é a construção de um caminho de plenas transformações onde as duas línguas que trocam informações são as maiores beneficiadas, assim como seus povos.
“As línguas devem ser ensinadas e tratadas como tesouros nacionais. Uma língua morre quando a última pessoa que a fala desaparece. Ou, algumas pessoas dizem, morre quando a penúltima pessoa que a fala desaparece, pois então a última não tem mais ninguém com quem conversar”. (CRYSTAL D, 2005).



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