Ainda não existe um consenso entre os estudiosos das linguagens, e provavelmente não existirá tão cedo, quanto a origem das línguas que conhecemos atualmente. O que sabemos é muito raso, bem superficial a ponto de colocar qualquer afirmação em "xeque".
Língua e Idioma - Sem confusão
Idiomas e línguas não são sinônimos. Como descrito no dicionário Michaellis, segundo Ferdinand de Saussure (1857-1913), linguista suíço, a língua se trata de um sistema abstrato de signos, subjacente à fala e à escrita, usado por uma comunidade e que se opõe à sua realização individual; langue. A língua é o modo peculiar que cada povo usa para se comunicar usando a oralidade, incluindo todos os aspectos de sua comunicação. O idioma, por sua vez, se refere à língua, mas é a referência que se dá ao país onde a língua é falada. Podemos afirmar então que o idioma de Brasil e Portugal é o português, mas a língua falada entre as duas nações difere. O idioma é todo o conjunto com suas regras e organizações, a língua é a comunicação em sua raiz, sem distinguir com exatidão regras do idioma na qual ela se refere.
Tão parecidas
Quando estamos em processo de aprendizagem de uma nova língua, a semelhança com uma outra é sempre gritante, parece que toda língua tem outro língua próxima a ela, não é verdade? Isso não é uma coincidência! Podemos levar em consideração, por exemplo, a língua romena, que tem mais de 550 palavras idênticas ao nosso português, deixando uma clara evidência de que essas línguas têm algo em comum e/ou estão de alguma maneira conectadas.
Isso nos leva a olhar para o passado em busca de materiais que nos mostrem e provem que as línguas atuais não existiam e que outra língua era a base de tudo o que conhecemos. Quando, por exemplo, olhamos para o latim vemos que as similaridades são gigantescas.
Alguns especialistas acreditam que existiu uma língua que deu origem a todas as línguas que conhecemos. No Egito antigo, em torno de 610 a.C., Psamético, um dos últimos faraós do Egito, um homem fascinado pelas línguas e empenhado a descobrir se existia uma língua que seria a língua-mãe de todos os povo teve a ideia de fazer um experimento. A ideia, porém, era cruel: determinou que ao nascer gêmeos, esses deveriam ser tirados da mãe imediatamente e um pastor deveria cuidar deles. As ordens eram as mais severas. O pastor, sob ameaça de morte, não poderia pronunciar nenhuma palavra para os recém nascidos.
Quando os bebês completaram 2 anos, o faraó ordenou que eles fossem deixados sem alimento, a ideia partia do pressuposto de que os bebês, ao sentir fome e sem saber nenhuma língua ensinada, pediriam comida na língua mais primitiva que existisse, julgando que todos os seres humanos já vinham com uma língua impressa em si.
Muito provavelmente, movido pela compaixão, o pastor não conseguiu cumprir a ordem do faraó, e, segundo relatos, um dos bebês pediu pão na língua cíntia, língua extinta falada no que hoje é o território da Ucrânia. Ao ver com satisfação a pesquisa, Psamético determinou que a língua do mundo era o Cíntio. 10 anos depois o rei Frederico da Germânia, inconformado com os estudos de Psamético resolveu fazer novamente a mesma pesquisa, mas com os bebês recém nascidos vigiados de perto: os dois morreram.
Cada palavra, em particular, apresenta sua história, sua biografia particular, isso nos leva a conhecer o que cada impressão sobre o mundo deu como fórmula para criar o sentido. Segundo o linguista Flávio di Giorgi, estudar essas origens proporciona um conhecimento íntimo do idioma, além das contribuições que o enriqueceram. Podemos exemplificar como o seguinte:
Tufão vem do chinês tu fong, vento forte.
Crocodilo vem do grego krokos deilos, lagarto do Nilo.
Óbvio vem do latim ob, na frente, e vias, caminho. Elementar.
Goiaba vem do tupi moim, cobrinha, e uba, fruta. Óbvio.
Xeque-mate vem do iraniano shahmat, o xá está morto.
Ébrio vem do celtibero bria, uma grande caneca de cerveja
consumida nas tavernas da Península Ibérica na época dos romanos. Os que tomavam mais de uma caneca eram os exbria, além da caneca.
Sóbrio vem de sub-bria, aqueles que se contentavam com menos de uma caneca.
Libido, liberdade e lubrificante têm a mesma raiz latina lib. “Faz sentido”, ensina di Giorgi.
“Sentir amor erótico significa ao mesmo tempo libertar-se, estar desimpedido, lubrificado, como prova a fisiologia humana.”
Hoje muitos linguistas estão empenhados em passar da lenda à verdade histórica, mas a tarefa é de extrema dificuldade. O exercício da Linguística como ciência, por sinal, está longe de ser uma atividade simples ou compensadora. Ao contrário, linguistas frequentemente passam anônimos pelo mundo, ao contrário de outros escavadores do passado humano, como os arqueólogos e paleontólogos. Grandes nomes da Linguística deste século, os franceses Ferdinand de Saussure, Émile Benveniste e o americano Noam Chomsky são ilustres desconhecidos para o público leigo.
O fato é, que, mesmo diante de tantas similaridades, a língua carece de estudos e estudiosos, é um dos territórios menos explorados por profissionais de todo o mundo, que correm atualmente na direção de registrar o máximo de línguas e conteúdos linguísticos possíveis sob a iminente ameaça de dominação de línguas maiores e extinção de outras pouco faladas. Fato ocorrido por conta do comércio, que obriga que os falantes de pequenas línguas aprendam a falar as colonialistas para adquirirem produtos ou serem "bem-sucedidos". O estudo da forma como a comunicação começou a se desenhar e ficar clara para o ser humano é uma complexa jornada feita de retalhos construídos ao passar do tempo.
Esses estudos muitas vezes nos fazem uma pergunta vaga, ainda sem uma solução clara: Poderemos nós, entender a origem de nossa própria fala?
Gráfico que mostra os idiomas e suas ramificações como galhos de uma árvore.
Meu nome é Flávio Lòpev, professor de línguas neolatinas, assíduo estudante da forma como a comunicação chega até as pessoas e como as linguagens evoluíram durante os tempos. Movido a sonhos, ando pelos caminhos onde a linguagem leva aquilo que nos dá fé!
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